Por qual razão estudamos Filosofia?
Longe de ser uma questão supérflua, a pergunta pelos motivos de estudarmos Filosofia é costumeiramente evocada e mostra-se de suma importância. Etimologicamente, sabemos que a palavra tem origem grega e possui como significado “amor ao conhecimento” ou “amante da sabedoria”: embora, como podemos perceber, tal elucidação não nos leva à resposta do título do texto.
Neste pequeno ensaio, tentarei expor, de modo breve, uma resposta à essa intrigante pergunta. Para tanto, dividirei o texto em dois momentos: primeiramente, gostaria de considerar a filosofia na história do homem; em segundo lugar, expor o significado e a razão de um estudo filosófico.
Factualmente, dizemos que a Filosofia nasceu na Grécia Antiga. No sentido primário do termo, filosofia podia ser considerada uma reflexão cujo objetivo era de ir além da experiência (ir além, portanto, dos sentidos) e descobrir a essência das coisas; ou seja, responder à pergunta: qual a constituição básica das coisas? Qual o princípio das coisas? De que tudo é feito, composto?
Essa pergunta, obviamente, teve respostas diversas. Os filósofos, ou ainda, os investigadores que debruçaram sobre essas perguntas, encontraram diversas origens. Um dizia que tudo provém da água; outro, do fogo; outro do ar. E assim sucessivamente. Estes filósofos eram denominados “pré-socráticos”.
Eis que um senhor chamado Sócrates, intrigado por uma série de perguntas, iniciou algo que mudaria para sempre o rumo da nossa velha Filosofia: questionando pessoas, na praça de Atenas, sobre o que era o amor, o conhecimento, a justiça, etc., Sócrates buscou compreender conceitos importantes a partir da reflexão e da palavra. Embora nunca tenha escrito nada, Sócrates deixou vários discípulos. Platão, seu mais famoso discípulo, elabora então uma “alegoria”: um mito simples que buscava explicar o que seria a Filosofia (o mito da caverna). Neste mito, as pessoas acorrentadas numa caverna, acostumados a ver tudo em forma de vultos e borrões, se libertam e vêem, pela primeira vez, o mundo. Espantadas, contemplam e depois voltam para a caverna; e contam como seria a realidade, àqueles que lá permaneceram. Os prisioneiros não acreditam no que ouvem e tudo volta ao normal naquela sombria caverna.
Platão então comparou o mito ao nosso conhecimento: todo este conhecimento deve passar de opiniões injustificadas, pré-conceituosas, mal formuladas à certeza, verdade e ao conceito correto. Propõe, então, pela primeira vez, o que deveria ser a Filosofia: uma saída de um mundo das aparências, sem certezas e cheio de dúvidas para um mundo mais racional, pensado; sobretudo: a Filosofia deveria ser uma investigação empregada pela razão, pelo raciocínio, pelas palavras, rumo à conceitos e idéias verdadeiras.
E assim nasce, então, a Filosofia - desde estes tempos longínquos. Foi assim na Idade Média (séc. V – séc. XV), quando São Tomás perguntava “se Deus é bom e é criador de todas as coisas, por que existe o mal?”. Foi assim na Idade Moderna (séc. XVI – séc. XIX), quando o homem desvinculou o pensamento estritamente de Deus e perguntou: “Qual o limite para o pensamento do homem? Ele pode conhecer tudo?”. Temos, deste modo, milhares de filósofos ou pensadores, que refletiam e refletem acerca de variados temas. E quais temas são estes? Temas que versam sobre Ética (conduta); Epistemologia (ciência); Estética (arte); dentre outros campos.
Vimos então que a Filosofia, essa antiga disciplina, pretende – a partir do pensamento e das palavras – algo genuinamente humano: entender o mundo e as coisas que nos cercam. Diferentemente dos cientistas, que querem descrever o mundo a partir de instrumentos diversos (pipetas, tubos de ensaio...), o filósofo possui a palavra, o pensamento e o raciocínio. E, diferentemente deste cientista, que busca provar suas teorias, o filósofo busca debater os mais variados temas, afim de fazer críticas à realidade. Críticas são importantes? Logicamente, sim. O ser humano necessita das críticas, da análise dos conceitos, dos discursos; o ser humano, este ser limitado (e finito), passageiro neste mundo... sempre teve e sempre terá prazer em questionar o que nos rodeia; em entender o que é o conhecimento e para que serve... em entender o que é o amor, e o para que deste... em saber o que é justo, e se a justiça compensa... etc... resumidamente: as mesmas perguntas, desde o século V a.C., 2500 anos atrás.
Abre-se então duas perguntas: como não chegamos a respostas sobre os questionamentos filosóficos, devemos abandonar a investigação destes questionamentos? O filósofo diria: não. A filosofia é uma atividade, devendo sempre ser praticada – tanto na escola, quanto na rua, etc. Não busca, portanto, alcançar “o certo”, ou “a verdade”. Como toda atividade, ela deve ser renovada, iniciada; tenhamos sempre fôlego para encarar as dúvidas que nos são colocadas. E a segunda pergunta que se abre é, justamente, aquela do título: Por que razão, então, estudamos Filosofia? Embora creio que, agora, você leitor já tenha uma resposta mais ou menos definida, darei a minha. Coloco-me, por alguns segundos, na pele de Sócrates e o deixo responder, assim como respondeu a alguém que, certa vez o fez a mesma pergunta: “Devemos filosofar simplesmente porque uma vida não analisada não merece ser vivida”. Espero que, agora, vocês tenham um motivo a mais para estudar minha amada e velha Filosofia.
Danilo Svágera da Costa
Neste pequeno ensaio, tentarei expor, de modo breve, uma resposta à essa intrigante pergunta. Para tanto, dividirei o texto em dois momentos: primeiramente, gostaria de considerar a filosofia na história do homem; em segundo lugar, expor o significado e a razão de um estudo filosófico.
Factualmente, dizemos que a Filosofia nasceu na Grécia Antiga. No sentido primário do termo, filosofia podia ser considerada uma reflexão cujo objetivo era de ir além da experiência (ir além, portanto, dos sentidos) e descobrir a essência das coisas; ou seja, responder à pergunta: qual a constituição básica das coisas? Qual o princípio das coisas? De que tudo é feito, composto?
Essa pergunta, obviamente, teve respostas diversas. Os filósofos, ou ainda, os investigadores que debruçaram sobre essas perguntas, encontraram diversas origens. Um dizia que tudo provém da água; outro, do fogo; outro do ar. E assim sucessivamente. Estes filósofos eram denominados “pré-socráticos”.
Eis que um senhor chamado Sócrates, intrigado por uma série de perguntas, iniciou algo que mudaria para sempre o rumo da nossa velha Filosofia: questionando pessoas, na praça de Atenas, sobre o que era o amor, o conhecimento, a justiça, etc., Sócrates buscou compreender conceitos importantes a partir da reflexão e da palavra. Embora nunca tenha escrito nada, Sócrates deixou vários discípulos. Platão, seu mais famoso discípulo, elabora então uma “alegoria”: um mito simples que buscava explicar o que seria a Filosofia (o mito da caverna). Neste mito, as pessoas acorrentadas numa caverna, acostumados a ver tudo em forma de vultos e borrões, se libertam e vêem, pela primeira vez, o mundo. Espantadas, contemplam e depois voltam para a caverna; e contam como seria a realidade, àqueles que lá permaneceram. Os prisioneiros não acreditam no que ouvem e tudo volta ao normal naquela sombria caverna.
Platão então comparou o mito ao nosso conhecimento: todo este conhecimento deve passar de opiniões injustificadas, pré-conceituosas, mal formuladas à certeza, verdade e ao conceito correto. Propõe, então, pela primeira vez, o que deveria ser a Filosofia: uma saída de um mundo das aparências, sem certezas e cheio de dúvidas para um mundo mais racional, pensado; sobretudo: a Filosofia deveria ser uma investigação empregada pela razão, pelo raciocínio, pelas palavras, rumo à conceitos e idéias verdadeiras.
E assim nasce, então, a Filosofia - desde estes tempos longínquos. Foi assim na Idade Média (séc. V – séc. XV), quando São Tomás perguntava “se Deus é bom e é criador de todas as coisas, por que existe o mal?”. Foi assim na Idade Moderna (séc. XVI – séc. XIX), quando o homem desvinculou o pensamento estritamente de Deus e perguntou: “Qual o limite para o pensamento do homem? Ele pode conhecer tudo?”. Temos, deste modo, milhares de filósofos ou pensadores, que refletiam e refletem acerca de variados temas. E quais temas são estes? Temas que versam sobre Ética (conduta); Epistemologia (ciência); Estética (arte); dentre outros campos.
Vimos então que a Filosofia, essa antiga disciplina, pretende – a partir do pensamento e das palavras – algo genuinamente humano: entender o mundo e as coisas que nos cercam. Diferentemente dos cientistas, que querem descrever o mundo a partir de instrumentos diversos (pipetas, tubos de ensaio...), o filósofo possui a palavra, o pensamento e o raciocínio. E, diferentemente deste cientista, que busca provar suas teorias, o filósofo busca debater os mais variados temas, afim de fazer críticas à realidade. Críticas são importantes? Logicamente, sim. O ser humano necessita das críticas, da análise dos conceitos, dos discursos; o ser humano, este ser limitado (e finito), passageiro neste mundo... sempre teve e sempre terá prazer em questionar o que nos rodeia; em entender o que é o conhecimento e para que serve... em entender o que é o amor, e o para que deste... em saber o que é justo, e se a justiça compensa... etc... resumidamente: as mesmas perguntas, desde o século V a.C., 2500 anos atrás.
Abre-se então duas perguntas: como não chegamos a respostas sobre os questionamentos filosóficos, devemos abandonar a investigação destes questionamentos? O filósofo diria: não. A filosofia é uma atividade, devendo sempre ser praticada – tanto na escola, quanto na rua, etc. Não busca, portanto, alcançar “o certo”, ou “a verdade”. Como toda atividade, ela deve ser renovada, iniciada; tenhamos sempre fôlego para encarar as dúvidas que nos são colocadas. E a segunda pergunta que se abre é, justamente, aquela do título: Por que razão, então, estudamos Filosofia? Embora creio que, agora, você leitor já tenha uma resposta mais ou menos definida, darei a minha. Coloco-me, por alguns segundos, na pele de Sócrates e o deixo responder, assim como respondeu a alguém que, certa vez o fez a mesma pergunta: “Devemos filosofar simplesmente porque uma vida não analisada não merece ser vivida”. Espero que, agora, vocês tenham um motivo a mais para estudar minha amada e velha Filosofia.
Danilo Svágera da Costa
Bela resposta!
ResponderExcluirElenice
verdade,
ResponderExcluirmesmo que a filosofia não busque a verdade
e simo enendimento das coisas através das palavras e do pensamento,
eu digo que é verdade o que foi dito ao final do
texto. Sabemos que se soubessemos tudo
e que se não existissem perguntas pra nos
questionarmos, a vida definitivamente não teria
graça... assim como não teve graça a vida das pessoas dentro daquela caverna, acorrentadas,
literalmente acorrentadas.
Uma vez escrevi essa frase: "Nadar pode ser considerado voar. Mas se isso for verdade, seria a água o nosso ar?"
uma teoria de habitat comparando nossa vida
com a dos peixes, os peixes voam n'agua,
mas nós não podemos voar pela inevitável gravidade,
porém isso - voar - foi pertinentemente tentado pelo nosso Santos Dumont, então é possível chegar à destinos com mais rapidez,
atravéz da aviação... porque alguém começou tudo, acreditando que era possível, mostrando teorias, e conseguindo adéptos.
Ah, adorei a ilustração do klint, su fã dos quadros dele.
Muito bom esse post. \o/
Tbm curto a ganga bruta.
um abraço aê do Felipe Godoy.
http://garfosemdentes.blogspot.com/