Questões ENEM 2019
QUESTÃO 01
A
lenda diz que, em um belo dia ensolarado, Newton estava relaxando sob uma
macieira. Pássaros gorjeavam em suas orelhas. Havia uma brisa gentil. Ele
cochilou por alguns minutos. De repente, uma maçã caiu sobre a sua cabeça e ele
acordou com um susto. Olhou para cima. “Com certeza um pássaro ou um esquilo
derrubou a maçã da árvore”, supôs. Mas não
havia pássaros ou esquilos na árvore por perto. Ele, então, pensou: “Apenas
alguns minutos antes, a maçã estava pendurada na árvore. Nenhuma força externa
fez ela cair. Deve haver alguma força subjacente que causa a queda das coisas
para a terra”.
The English Enlightenment, p. 1-3,
apud MARTINS, R. A. A maçã de Newton: história, lendas e tolices. In: SILVA, C.
C. (org.). Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para
aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006. p. 169 (adaptado).
Em
contraponto a uma interpretação idealizada, o texto aponta para a seguinte
dimensão fundamental da ciência moderna:
A)
Falsificação das teses
B)
Negação da observação.
C)
Proposição de hipóteses.
D)
Contemplação da natureza.
E)
Universalização de conclusões
QUESTÃO 02
A
hospitalidade pura consiste em acolher aquele que chega antes de lhe impor
condições, antes de saber e indagar o que quer que seja, ainda que seja um nome
ou um “documento” de identidade. Mas ela também supõe que se dirija a ele, de
maneira singular, chamando-o portanto e reconhecendo-lhe um nome próprio: “Como
você se chama?” A hospitalidade consiste em fazer tudo para se dirigir ao
outro, em lhe conceder, até mesmo perguntar seu nome, evitando que essa
pergunta se torne uma “condição”, um inquérito policial, um fichamento ou um
simples controle das fronteiras. Uma arte e uma poética, mas também toda uma
política dependem disso, toda uma ética se decide aí.
DERRIDA, J. Papel-máquina. São Paulo:
Estação Liberdade, 2004 (adaptado).
Associado
ao contexto migratório contemporâneo, o conceito de hospitalidade proposto pelo
autor impõe a necessidade de
A)
anulação da diferença.
B)
cristalização da biografia.
C)
incorporação da alteridade.
D)
supressão da comunicação.
E)
verificação da proveniência
QUESTÃO 03
Em
sentido geral e fundamental, Direito é a técnica da coexistência humana, isto
é, a técnica voltada a tornar possível a coexistência dos homens. Como técnica,
o Direito se concretiza em um conjunto de regras (que, nesse caso, são leis ou
normas); e tais regras têm por objeto o comportamento intersubjetivo, isto é, o
comportamento recíproco dos homens entre si.
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
O
sentido geral e fundamental do Direito, conforme foi destacado, refere-se à
A)
aplicação de códigos legais.
B)
regulação do convívio social.
C)
legitimação de decisões políticas.
D)
mediação de conflitos econômicos.
E)
representação da autoridade constituída
QUESTÃO 04
Penso
que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que
poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso, pelo contrário, que o sujeito
se constitui através das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma,
através de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade — a partir,
obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que podemos encontrar no
meio cultural.
FOUCAULT, M. Ditos e escritos V:
ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
O
texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão
A)
legal, pautada em preceitos jurídicos.
B)
racional, baseada em pressupostos lógicos.
C)
contingencial, processada em interações sociais.
D)
transcendental, efetivada em princípios religiosos.
E)
essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.
QUESTÃO 05
Essa
atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de
propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo
todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que
neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida
fosse neles separada das finalidades deste mundo.
Mais
que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca
uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como
solução perfeitamente normal.
ARENDT, H. Origens do totalitarismo.
São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado).
A
partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas,
evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)
A)
ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.
B)
alienação ideológica, que justifica as ações individuais.
C)
cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas.
D)
segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.
E)
enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.
QUESTÃO 06
A
soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos era imprescindível para a
existência da cidade-estado. Segundo os regimes políticos, a proporção desses
cidadãos em relação à população total dos homens livres podia variar muito,
sendo bastante pequena nas aristocracias e oligarquias e maior nas democracias.
CARDOSO, C. F. A cidade-estado
clássica. São Paulo: Ática, 1985.
Nas
cidades-estado da Antiguidade Clássica, a proporção de cidadãos descrita no
texto é explicada pela adoção do seguinte critério para a participação
política:
A)
Controle da terra.
B)
Liberdade de culto.
C)
Igualdade de gênero.
D)
Exclusão dos militares.
E)
Exigência da alfabetização.
QUESTÃO 07
TEXTO
I
Duas
coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu estrelado
sobre mim e a lei moral em mim.
KANT, I. Crítica da razão prática.
Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado).
TEXTO
II
Duas
coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.
FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia
completa. São Paulo: Hedra, 2015.
A
releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do
pensamento kantiano:
A)
Possibilidade da liberdade e obrigação da ação.
B)
Aprioridade do juízo e importância da natureza.
C)
Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica.
D)
Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão.
E)
Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.
QUESTÃO 08
A
Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia
Geral da ONU na Resolução 217-A, de 10 de dezembro de 1948, foi um
acontecimento histórico de grande relevância. Ao afirmar, pela primeira vez em
escala planetária, o papel dos direitos humanos na convivência coletiva, pode
ser considerada um evento inaugural de uma nova concepção de vida
internacional.
LAFER, C. Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948). In: MAGNOLI, D. (Org.). História da paz. São Paulo:
Contexto, 2008.
A
declaração citada no texto introduziu uma nova concepção nas relações
internacionais ao possibilitar a
A)
superação da soberania estatal.
B)
defesa dos grupos vulneráveis.
C)
redução da truculência belicista.
D)
impunidade dos atos criminosos.
E)
inibição dos choques civilizacionais.
QUESTÃO 09
Dizem
que Humboldt, naturalista do século XIX, maravilhado pela geografia, flora e
fauna da região sul-americana, via seus habitantes como se fossem mendigos
sentados sobre um saco de ouro, referindo-se a suas incomensuráveis riquezas
naturais não exploradas. De alguma maneira, o cientista ratificou nosso papel
de exportadores de natureza no que seria o mundo depois da colonização ibérica:
enxergou-nos como territórios condenados a aproveitar os recursos naturais
existentes.
COSTA, A. Bem viver: uma oportunidade
para imaginar outros mundos. São Paulo: Elefante, 2016 (adaptado).
A
relação entre ser humano e natureza ressaltada no texto refletia a permanência
da seguinte corrente filosófica:
A)
Relativismo cognitivo.
B)
Materialismo dialético.
C)
Racionalismo cartesiano.
D)
Pluralismo epistemológico.
E)
Existencialismo fenomenológico
QUESTÃO 10
De
fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve
supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu
ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver e agir
corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para
esse fim, considerando-se que se um homem a
usa
para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto se
a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para agir corretamente,
mas também para pecar. Na verdade, por que deveria ser punido aquele que usasse
sua vontade para o fim para o qual ela lhe foi dada?
AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In:
MARCONDES, D. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
Nesse
texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina tem
como fundamento o(a)
A)
desvio da postura celibatária.
B)
insuficiência da autonomia moral.
C)
afastamento das ações de desapego.
D)
distanciamento das práticas de sacrifício.
E)
violação dos preceitos do Velho Testamento.
QUESTÃO 11
Para
Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria
integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse
mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados
para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o
prejuízo não será apenas individual,
mas
coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos,
pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.
ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da
força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).
O
texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na
distinção entre
A)
idealidade e efetividade da moral.
B)
nulidade e preservabilidade da liberdade.
C)
ilegalidade e legitimidade do governante.
D)
verificabilidade e possibilidade da verdade.
E)
objetividade e subjetividade do conhecimento.
QUESTÃO 12
TEXTO
I
Considero
apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito,
ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar, admirar
e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.
DESCARTES, R. Meditações. São Paulo:
Abril Cultural, 1980.
TEXTO
II
Qual
será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa
razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa?
Não podemos dizer que a crença em Deus é “apenas” uma questão de fé.
RACHELS, J. Problemas da filosofia.
Lisboa: Gradiva, 2009.
Os
textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende um
modelo
A)
centrado na razão humana.
B)
baseado na explicação mitológica.
C)
fundamentado na ordenação imanentista.
D)
focado na legitimação contratualista.
E)
configurado na percepção etnocêntrica
QUESTÃO 13
Em
nenhuma outra época o corpo magro adquiriu um sentido de corpo ideal e esteve
tão em evidência como nos dias atuais: esse corpo, nu ou vestido, exposto em
diversas revistas femininas e masculinas, está na moda: é capa de revistas,
matérias de jornais, manchetes publicitárias, e se transformou em sonho de
consumo para milhares de pessoas. Partindo dessa concepção, o gordo passa a ter
um corpo visivelmente sem comedimento, sem saúde, um corpo estigmatizado pelo
desvio, o desvio pelo excesso. Entretanto, como afirma a escritora Marylin
Wann, é perfeitamente possível ser gordo e saudável. Frequentemente os gordos
adoecem não por causa da gordura, mas sim pelo estresse, pela opressão a que
são submetidos.
VASCONCELOS, N. A.; SUDO, I.; SUDO, N.
Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal-Estar e Subjetividade, n.
1, mar. 2004 (adaptado).
No
texto, o tratamento predominante na mídia sobre a relação entre saúde e corpo
recebe a seguinte crítica:
A)
Difusão das estéticas antigas.
B)
Exaltação das crendices populares.
C)
Propagação das conclusões científicas.
D)
Reiteração dos discursos hegemônicos.
E)
Contestação dos estereótipos consolidados.
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