QUESTÕES ENEM 2019 PPL


QUESTÃO 01
Eis o ensinamento de minha doutrina: “Viva de forma a ter de desejar reviver — é o dever —, pois, em todo caso, você reviverá! Aquele que ama antes de tudo se submeter, obedecer e seguir, que obedeça! Mas que saiba para o que dirige sua preferência, e não recue diante de nenhum meio! É a eternidade que está em jogo!”.

NIETZSCHE apud FERRY, L. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010 (adaptado).

O trecho contém uma formulação da doutrina nietzscheana do eterno retorno, que apresenta critérios radicais de avaliação da

A) qualidade de nossa existência pessoal e coletiva.
B) conveniência do cuidado da saúde física e espiritual.
C) legitimidade da doutrina pagã da transmigração da alma.
D) veracidade do postulado cosmológico da perenidade do mundo.
E) validade de padrões habituais de ação humana ao longo da história.

QUESTÃO 02
A linguagem é uma grande força de socialização, provavelmente a maior que existe. Com isso não queremos dizer apenas o fato mais ou menos óbvio de que a interação social dotada de significado é praticamente impossível sem a linguagem, mas que o mero fato de haver uma fala comum serve como um símbolo peculiarmente poderoso da solidariedade social entre aqueles que falam aquela língua.

SAPIR, E. A linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1980. O texto destaca o entendimento segundo o qual a linguagem, como elemento do processo de socialização, constitui-se a partir de uma

A) necessidade de ligação com o transcendente.
B) relação de interdependência com a cultura.
C) estruturação da racionalidade científica.
D) imposição de caráter econômico.
E) herança de natureza biológica.

QUESTÃO 03
Tomás de Aquino, filósofo cristão que viveu no século XIII, afirma: a lei é uma regra ou um preceito relativo às nossas ações. Ora, a norma suprema dos atos humanos é a razão. Desse modo, em última análise, a lei está submetida à razão; é apenas uma formulação das exigências racionais. Porém, é mister que ela emane da comunidade, ou de uma pessoa que legitimamente a representa.

GILSON, E.; BOEHNER, P. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).

No contexto do século XIII, a visão política do filósofo mencionado retoma o

A) pensamento idealista de Platão.
B) conformismo estoico de Sêneca.
C) ensinamento místico de Pitágoras.
D) paradigma de vida feliz de Agostinho.
E) conceito de bem comum de Aristóteles.

QUESTÃO 04
TEXTO I
Eu queria movimento e não um curso calmo da existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida.

TOLSTÓI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

TEXTO II
Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um enunciado mais exato da verdade; não sendo suficiente que eu lhe sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso sacrificar-lhe também minha fraqueza e minha natureza tímida. Era preciso ter a coragem e a força de ser sempre verdadeiro em todas as ocasiões.

ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitário. Porto Alegre: L&PM, 2009.

Os textos de Tolstói e Rousseau retratam ideais da existência humana e defendem uma experiência

A) lógico-racional, focada na objetividade, clareza e imparcialidade.
B) místico-religiosa, ligada à sacralidade, elevação e espiritualidade.
C) sociopolítica, constituída por integração, solidariedade e organização.
D) naturalista-científica, marcada pela experimentação, análise e explicação.
E) estético-romântica, caracterizada por sinceridade, vitalidade e impulsividade.

QUESTÃO 05
Os pesquisadores que trabalham com sociedades indígenas centram sua atenção em documentos do tipo jurídico-administrativo (visitas, testamentos, processos) ou em relações e informes e têm deixado em segundo plano as crônicas. Quando as utilizam, dão maior importância àquelas que foram escritas primeiro e que têm caráter menos teórico e intelectualizado, por acharem que estas podem oferecer informações menos deformadas. Contrariamos esse posicionamento, pois as crônicas são importantes fontes etnográficas, independentemente de serem contemporâneas ao momento da conquista ou de terem sido redigidas em período posterior. O fato de seus autores serem verdadeiros humanistas ou pouco letrados não desvaloriza o conteúdo dessas crônicas.

PORTUGAL, A. R. O ayllu andino nas crônicas quinhentistas: um polígrafo na literatura brasileira do século XIX (1885-1897). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

As fontes valorizadas no texto são relevantes para a reconstrução da história das sociedades pré-colombianas porque

A) sintetizam os ensinamentos da catequese.
B) enfatizam os esforços de colonização.
C) tipificam os sítios arqueológicos.
D) relativizam os registros oficiais.
E) substituem as narrativas orais.

QUESTÃO 06
A ciência ativa rompe com a separação antiga entre a ciência (episteme), o saber teórico, e a técnica (techne), o saber aplicado, integrando ciência e técnica. Do ponto
de vista da ideia de ciência, a valorização da observação e do método experimental opõe a ciência ativa à ciência contemplativa dos antigos; assim também, a utilização
da matemática como linguagem da física, proposta por Galileu sob inspiração platônica e pitagórica, e contrária à concepção aristotélica.

MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008 (adaptado).

Nesse contexto, a ciência encontra seu novo fundamento na

A) utilização da prova para confirmação empírica.
B) apropriação do senso comum como inspiração.
C) reintrodução dos princípios da metafísica clássica.
D) construção do método em separado dos fenômenos.
E) consolidação da independência entre conhecimento e prática.

QUESTÃO 07
O feminismo teve uma relação direta com o descentramento conceitual do sujeito cartesiano e sociológico. Ele questionou a clássica distinção entre o “dentro” e o “fora”, o “privado” e o “público”. O slogan do feminismo era: “o pessoal é político”. Ele abriu, portanto, para a contestação política, arenas inteiramente novas: a família, a sexualidade, a divisão doméstica do trabalho etc.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2011 (adaptado).

O movimento descrito no texto contribui para o processo de transformação das relações humanas, na medida em que sua atuação

A) subverte os direitos de determinadas parcelas da sociedade.
B) abala a relação da classe dominante com o Estado.
C) constrói a segregação dos segmentos populares.
D) limita os mecanismos de inclusão das minorias.
E) redefine a dinâmica das instituições sociais.

QUESTÃO 08
O conhecimento é sempre aproximado, falível e, por isso mesmo, suscetível de contínuas correções. Uma justificação pode parecer boa, num certo momento, até aparecer um conhecimento melhor. O que define a ciência não será então a ilusória obtenção de verdades definitivas. Ela será antes definível pela prevalência da utilização, por parte
dos seus praticantes, de instrumentalidades que o campo científico forjou e tornou disponíveis. Ou seja, cada progressão no conhecimento que mostre o caráter errôneo ou insuficiente de conhecimentos anteriores não remete estes últimos para as trevas exteriores da não ciência, mas apenas para o estágio de conhecimentos científicos
historicamente ultrapassados.

ALMEIDA, J. F. Velhos e novos aspectos da epistemologia das ciências sociais. Sociologia: problemas e práticas, n. 55, 2007 (adaptado).

O texto desmistifica uma visão do senso comum segundo a qual a ciência consiste no(a)

A) conjunto de teorias imutáveis.
B) consenso de áreas diferentes.
C) coexistência de teses antagônicas.
D) avanço das pesquisas interdisciplinares.
E) preeminência dos saberes empíricos.

QUESTÃO 09
É amplamente conhecida a grande diversidade gastronômica da espécie humana. Frequentemente, essa diversidade é utilizada para classificações depreciativas. Assim, no início do século, os americanos denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os índios kaapor discriminam os timbiras chamando-os pejorativamente de “comedores de cobra”. E a palavra potiguara pode significar realmente “comedores de camarão”. As pessoas não se chocam apenas porque as outras comem coisas variadas, mas também pela maneira que agem à mesa.
Como utilizamos garfos, surpreendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade.

LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. São Paulo: Jorge Zahar, 2001 (adaptado).

O processo de estranhamento citado, com base em um conjunto de representações que grupos ou indivíduos formam sobre outros, tem como causa o(a)

A) reconhecimento mútuo entre povos.
B) etnocentrismo recorrente entre populações.
C) comportamento hostil em zonas de conflito.
D) constatação de agressividade no estado de natureza.
E) transmutação de valores no contexto da modernidade.

QUESTÃO 10
O espírito humano controla as máquinas cada vez mais potentes que criou. Mas a lógica dessas máquinas artificiais controla cada vez mais o espírito dos cientistas, sociólogos, políticos e, de modo mais abrangente, todos aqueles que, obedecendo à soberania do cálculo, ignoram tudo o que não é quantificável, ou seja, os sentimentos, sofrimentos, alegrias dos seres humanos. Essa lógica é assim aplicada ao conhecimento e à conduta das sociedades, e se espalha em todos os setores da vida.

MORIN, E. O método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2012 (adaptado).

No contexto atual, essa crítica proposta por Edgar Morin se aplica à

A) intensificação das relações interpessoais.
B) descentralização do poder econômico.
C) fragmentação do mercado consumidor.
D) valorização do paradigma tecnológico.
E) simplificação das atividades laborais.

QUESTÃO 11
A importância do conhecimento está em seu uso, em nosso domínio ativo sobre ele, quero dizer, reside na sabedoria. É convencional falar em mero conhecimento, separado da sabedoria, como capaz de incutir uma dignidade peculiar a seu possuidor. Não compartilho dessa reverência pelo conhecimento como tal. Tudo depende de quem possui o conhecimento e do uso que faz dele.

WHITHEHEAD, A. N. Os fins da educação e outros ensaios. São Paulo: Edusp, 1969.

No trecho, o autor considera que o conhecimento traz possibilidades de progresso material e moral quando

A) prioriza o rigor conceitual.
B) valoriza os seus dogmas.
C) avalia a sua aplicabilidade.
D) busca a inovação tecnológica.
E) instaura uma perspectiva científica.

QUESTÃO 12
Tomemos o exemplo de Sócrates: é precisamente ele quem interpela as pessoas na rua, os jovens no ginásio, perguntando: “Tu te ocupas de ti?” O deus o encarregou disso, é sua missão, e ele não a abandonará, mesmo no momento em que for ameaçado de morte. Ele é certamente o homem que cuida do cuidado dos outros: esta é a posição particular do filósofo.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

O fragmento evoca o seguinte princípio moral da filosofia socrática, presente em sua ação dialógica:

A) Examinar a própria vida.
B) Ironizar o seu oponente.
C) Sofismar com a verdade.
D) Debater visando a aporia.
E) Desprezar a virtude alheia.

QUESTÃO 13
Vimos que o homem sem lei é injusto e o respeitador da lei é justo; evidentemente todos os atos legítimos são, em certo sentido, atos justos, porque os atos prescritos pela arte do legislador são legítimos e cada um deles é justo. Ora, nas disposições que tomam sobre todos os assuntos, as leis têm em mira a vantagem comum, quer de todos, quer dos melhores ou daqueles que detêm o poder ou algo desse gênero; de modo que, em certo sentido, chamamos justos aqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para a sociedade política, a felicidade e os elementos que a compõem.

ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010 (adaptado).

De acordo com o texto de Aristóteles, o legislador deve agir conforme a

A) moral e a vida privada.
B) virtude e os interesses públicos.
C) utilidade e os critérios pragmáticos.
D) lógica e os princípios metafísicos.
E) razão e as verdades transcendentes.

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